quinta-feira, 5 de maio de 2011

Cada um com seu entulho

por Giuliana Capello

Quem já construiu ou reformou sabe a trabalheira que isso dá. Provavelmente, também já deve ter ficado intrigado com o desperdício de materiais que é muito comum nos canteiros de obras. De tão comum, virou banal; de tão banal, pouca gente se importa com ele. Felizmente, aos poucos, bem aos poucos mesmo, algumas pessoas, profissionais, entidades e até construtoras estão tentando mudar a cara de “esbanjadora de recursos” que a construção civil estampa por aí – e não sem motivos. Os esforços, é bem verdade, ainda são pequenos. Basta passear pela cidade para encontrar dezenas de caçambas de entulho ocupando calçadas em bairros de norte a sul. Sem falar nos terrenos baldios e margens de córregos que, irregularmente, servem de depósito de restos de obras, um verdadeiro crime ambiental.



Para não ser cúmplice do problema, é preciso ficar atento. Parte do problema começa com as nossas demandas. Na hora de reformar a casa, atenção aos detalhes: será que é mesmo necessário trocar o piso do banheiro? Não dá para fixar outro revestimento por cima, pelo menos, sem fazer quebra-quebra e produzir lixo? É realmente necessário trocar as louças sanitárias por um modelo mais moderninho – e de novo gerar entulho? São pequenos gestos, sim, mas que fazem muita diferença na somatória de toneladas de lixo que nossas cidades acumulam todo mês.

Pouca gente sabe, mas o volume de entulho produzido diariamente no município de São Paulo é maior do que todo o lixo doméstico gerado pela população nas mesmas 24 horas. E para onde vai tanto entulho? Uma parte é destinada a aterros especiais, adequados para o depósito de materiais inertes, como concreto e restos cerâmicos. Outra parte, porém, acaba em depósitos irregulares, poluindo o solo e os cursos d’água.

Na construção da minha casa na ecovila, tudo é feito com muito cuidado para evitar desperdícios e reaproveitar ao máximo os materiais. As sobras da madeira usada na estrutura da casa, por exemplo, têm sido reaproveitadas de diversas maneiras: erguemos duas paredes de Cord Wood (ou parede de toquinhos, na foto), separamos toras menores para artesanato, marcenaria e lenha, e até a bancada da pia do banheiro foi construída com esse material. Como a maioria das paredes foi feita com técnicas de terra crua (tijolos de adobe, pau-a-pique, superadobe etc.), a obra gerou pouco entulho. E o que, mesmo assim, ficou acumulado no terreno agora começa a “sumir” em pequenas construções como muros de arrimo, canais de infiltração de águas cinzas (dos chuveiros e pias) e pequenas contenções de terra. Tudo para tentar resolver localmente o problema do entulho, sem ter de contratar uma caçamba para levar o lixo para bem longe de nós – como se isso fosse sinônimo de resolver a questão.

Gerar menos entulho passa também por cuidados na gestão do canteiro de obras. Entulho, na verdade, é resultado da mistura de materiais que, se tivessem sido separados adequadamente, poderiam ser reaproveitados na própria obra. Com um pouco de organização e força de vontade para estender a ação aos trabalhadores da obra, é possível separar restos de madeira, plásticos, embalagens de papel, ferragens, sobras de concreto e de cerâmica vermelha (telhas e tijolos quebrados). Dessa forma, fica mais fácil encontrar espaços de aplicação para esses materiais nobres, que ainda podem ser reaproveitados.

Mosaicos com azulejos e pisos quebrados, móveis com sobra de madeira, painéis de taquinhos de madeira e caminhos de jardim são apenas algumas das inúmeras ideias que surgem quando prestamos atenção aos materiais classificados de antemão como entulho. Se olharmos bem para eles, veremos que ainda têm uma longa vida pela frente – que deveria ser “aproveitada” bem longe das caçambas de entulho. Não é preciso inventar a roda; apenas comece cuidando do seu.


fonte: http://www.planetasustentavel.com.br/

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